Descanso versus trabalho
Empresas investem no desenvolvimento de programas e atividades em prol do bem-estar e da saúde mental dos funcionários
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Empresas investem no desenvolvimento de programas e atividades em prol do bem-estar e da saúde mental dos funcionários
Taís Farias Ribeiro
Amazon lançou no Brasil, neste ano, o programa WorkingWell, que inclui exercícios mentais e corporais para reenergizar os funcionários (crédito: divulgação)
Do lado das empresas, com o trabalho remoto, ficou mais difícil apreender o clima do grupo e identificar profissionais que podem estar precisando de ajuda. “Do que olhamos e conversamos com líderes de gestão de pessoas, o principal desafio é reconhecer o que está acontecendo”, conta a diretora do Great Place to Work sobre os líderes que perderam um de seus principais termômetros, o contato presencial. Isso obriga as empresas a repensarem seus canais e abordagens de comunicação, o que não pode significar mais uma demanda para os membros da equipe. A busca por equilíbrio se tornou uma peça-chave nessa transição.
A diretora de conteúdo e relações institucionais da consultoria, que se propõe a ajudar as organizações a obter resultados melhores por meio da cultura, conta que há, agora, uma inversão de valores. Se no início da pandemia havia preocupação em atrelar o home office a produtividade, agora, “as melhores empresas estão querendo monitorar mais o descanso do que seu trabalho”, aponta. Ela destaca que essa realidade reflete empresas preocupadas com a cultura organizacional e seus colaboradores. Há ainda outro desafio. Enquanto nas empresas os horários eram geralmente definidos pela organização, em casa, esse gerenciamento vira responsabilidade do funcionário. “Fomos inseridos em um contexto em que nós mesmos temos que encontrar o equilíbrio”, aponta Daniela Diniz. “O modelo em que fomos educados não existe mais”, conclui. “Entendemos que o equilíbrio entre trabalho e tantas outras instâncias da nossa vida já é algo difícil, mas acreditamos que trabalhar de casa e enfrentar uma pandemia traz ainda mais complexidade para essa equação”, adiciona Deborah Abisaber, head de D&I no Nubank.
Para converter essa preocupação em ações práticas, as companhias começaram a criar áreas e trazer profissionais, que se tornaram responsáveis pela saúde mental e felicidade no trabalho. “Houve aquecimento de profissionais de RH nas empresas”, conta Erika Moraes. Esse investimento foi organizado em departamentos dedicados ou incorporado pelas área de recursos humanos. As empresas que ainda não tinham, passaram a criar programas de saúde e bem-estar. Os programas, no geral, envolvem acesso a terapia, atividades, como yoga e meditação, espaço para o diálogo e treinamento das lideranças. Outras práticas, como bloquear as agendas de toda a empresa no horário de almoço e estipular intervalo mínimo entre reuniões, vem ganhando popularidade. Durante esse período, consultorias especializadas e os próprios planos de saúde têm se tornado ponto de apoio.
Da porta para dentro
O Nubank, por exemplo, conta desde 2018 com o NuCare, canal de suporte 24 horas para assistência psicológica, social, financeira e legal a seus funcionários e dependentes. Em abril, estendeu esse benefício para os pais e mães dos colaboradores. Desde o início do trabalho remoto, a companhia oferece aulas de yoga virtual e sessões de mindfulness. A startup realiza, ainda, palestras, webinars e conversas com times específicos, abordando a saúde emocional, além de ter um médico disponível para apoiar seus funcionários.
Nesse sentido, a gigante do varejo digital Amazon trouxe para o Brasil e outros países da América Latina, durante o primeiro semestre deste ano, o programa WorkingWell. Criado em 2019, nos Estados Unidos, o projeto inclui exercícios mentais e corporais para ajudar a recarregar e reenergizar os funcionários. A empresa implantará quiosques da inciativa e prepara um aplicativo, com acesso a todas as atividades de segurança, saúde e bem-estar. A Amazon também conta com o Programa de Assistência ao Funcionário (EAP), com atendimento 24 horas para que os profissionais e seus familiares tenham espaço seguro para conversar sobre situações que podem afetar sua saúde emocional. Além do suporte, o EAP ajuda gratuitamente os funcionários a encontrarem profissionais de saúde.
A empresa investiu mais de US$ 1,2 bilhão globalmente em programas de segurança e bem-estar em 2020. “Estamos expandindo nossa equipe de saúde e segurança no trabalho e trazendo líderes e especialistas da organização certos para garantir que nossos locais de trabalho liderem investimentos de ponta em segurança, treinamento e educação”, comenta Ricardo Pagani, diretor de operações da Amazon no Brasil.
A multinacional de bens de consumo Unilever estabeleceu em 2015 uma estratégia de bem-estar em quatro pilares: físico, mental, emocional e conexão com propósito. No pilar mental, é oferecido apoio psicológico, financeiro, jurídico e social para funcionários e dependentes de maneira confidencial e gratuita. Outras iniciativas são o Biofeedback, processo de psicoeducação que visa orientar colaboradores a identificar os gatilhos que geram estresse e ansiedade, assim como combatê-los, e oficinas de meditação.
Lideranças ativas
“É importante destacar o papel da liderança nesse processo. A cultura é a base, a casa das boas práticas, e os líderes são os porta-vozes. São eles que traduzem e contribuem para as políticas saírem do papel e entrarem em prática efetivamente. Com uma cultura organizacional muito bem definida e com liderança que tem clareza do seu papel enquanto guardião da saúde e bem-estar do seu time, é possível evoluir para o envolvimento dos funcionários como propagadores e incentivadores dos programas”, conta Ana Paula Franzoti, diretora de desenvolvimento organizacional e cultura da Unilever. Outro ponto fundamental, segundo a executiva, é exercer a escuta ativa, ouvir quais são as principais dores e demandas das pessoas para implementar programas que façam sentido e que impactem positivamente suas vidas”.
A busca por endereçar essa demanda nas empresas também representa oportunidade de negócio. Em 2016, o doutor em computação e telecomunicações José Simões e o médico Rui Brandão criaram a startup Zenklub, após a mãe de Rui sofrer um burnout. A missão da startup é democratizar o acesso à saúde emocional. A plataforma oferece sessões online com psicólogos, terapeutas, psicanalistas, além de ajudar empresas no suporte aos seus colaboradores. Segundo Cássia Messias, COO do Zenklub, o interesse das companhias vem crescendo. “Eram 12 empresas em dezembro de 2019 e 214, no final de 2020. Hoje, são mais de 300, entre elas Ambev, Qualicorp, Creditas, Tecnisa, Loggi e Natura”, conta Cássia. Para a COO, há cada vez mais empresas tomando atitudes concretas, porém, em diferentes estágios de maturidade.
A executiva enxerga o tema como pauta em evolução e defende o estabelecimento de metas de segurança psicológica para trabalhadores. “Há alguns anos, vimos o aumento da preocupação com a saúde física no trabalho, então, muitas empresas passaram a preocupar-se com a criação de ambientes de trabalho mais adequados e com ergometria, equipamento de proteção individual, ginástica laboral etc. Hoje, vemos a saúde emocional passando por esse processo. Acredito que, na era da sociedade digitalizada, faz sentido o estabelecimento de metas de segurança psicológica para trabalhadores, devido às longas jornadas de exposição, ao alto volume de informações, forte estímulo mental, entre outros”, aponta Cássia.
Apesar da urgência, é preciso destacar que essa preocupação está longe de fazer parte de todos os ambientes, como aponta Danielle Mattos, cofundadora da consultoria Indique Uma Preta. “É necessário ter olhar crítico quando o assunto é saúde mental dos trabalhadores na pandemia. Essas discussões ainda se concentram no mundo corporativo e deixam de fora aqueles que estão atuando na linha de frente da economia na pandemia: entregadores de delivery, trabalhadores de supermercado, motoristas de ônibus e aplicativos, trabalhadoras domésticas, porteiros etc.”, indica Danielle. Em outubro do ano passado, pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que sintomas de ansiedade e depressão afetavam 47,3% dos trabalhadores de essenciais, no Brasil e na Espanha.